Hoje, mesmo em minoria, várias mulheres já consolidaram sua posição nesses mercados. Mas para que isso acontecesse, alguns percalços tiveram que ser percorridos.A jornalista Ana Erthal, que há sete anos migrou para web, viveu na pele a revolução provocada pela internet. "Como profissional, via as coisas acontecendo numa velocidade jamais imaginada, pois entramos na era da instantaneidade na informação". Além disso, ela afirma que a agilidade que a web proporciona nas relações profissionais alavanca a produção. Em contrapartida, Ana ainda se incomoda quando, ao participar de um evento como o Campus Party, encontro de WebDesigners ou InterCon, vê-se diante de uma platéia 80% masculina e recebe olhares enviesados. "Isso ocorre principalmente se estamos um degrau acima na hierarquia. Apesar disso, vejo as mulheres trabalhando de igual pra igual, mas recebendo menos".
Mesmo acreditando que, no tocante à conduta das empresas em relação a homens e mulheres, em algumas delas existe diferença de tratamento, Fernanda Weiden aponta que identificar e respeitar a individualidade e a diversidade dos funcionários é papel das pessoas que gerenciam as companhias. "Somos diferentes, sim, mas precisamos fazer com que a diferença de tratamento não signifique favorecimento de um gênero sobre o outro", afirma.
Historicamente, as pesquisas científicas sempre foram território masculino, que dirá na área de informática/tecnologia. As mulheres raramente tiveram acesso a esse universo e, quando conseguiam alcançá-lo, seus feitos, não raro, nunca eram devidamente reconhecidos. Sua capacidade intelectual era sempre subestimada e as características ditas tipicamente femininas, como subjetividade, empatia, cooperação e sensibilidade, eram consideradas uma desvantagem. Em conseqüência desse panorama, na hora de deixar a pesquisa para alcançar a prática, a maioria continuou sendo masculina.Mesmo diante desse panorama, Risoletta Miranda, Sócia e Diretora da Addcomm, afirma que o que conta, de fato, no mercado é a competência, e não o gênero. Como as mulheres estão há menos tempo no mercado do que os homens, o tempo de "experiência" delas também é menor. "Por causa disso, tivemos, e temos, que aprender tudo muito rapidamente, porque na hora de comparar ninguém dá um desconto". Ela salienta que isso torna as mulheres mais ágeis e mais perspicazes.
Culturalmente, sempre foi senso comum de que meninos gostam de matemática e meninas de português; meninos brincam de carrinho e com ferramentas e meninas de bonecas e aprendem a fazer as tarefas domésticas. Além disso, as mulheres eram criadas para se casar, ter filhos e cuidar da casa, enquanto que os homens eram educados para trabalhar e serem os provedores do lar. Talvez desse contexto tenha surgido a tal aversão que dizem que grande parte das mulheres tem de computador.Mas a realidade já não é bem assim. A estudante de Administração e Marketing Ingrid Ferrari mantém um blog sobre tecnologia, o http://fhaznew.blogspot.com/, desde outubro de 2007. Com o site, Ingrid vive experiências opostas em relação ao embate com o sexo masculino. "Já recebi emails de homens com os mais diferentes conteúdos: alguns elogiam, dizendo que não é comum mulheres discutirem sobre TI e mostram-se dispostos a ajudar no que eu precisar, mas outros criticam e discriminam sem motivo, tendo eu cometido algum deslize ou não".
O diferencial é o destaque
As mudanças no que se refere à internet e à TI ocorrem numa velocidade espantosa, às vezes até instantânea, e manter-se atual nesse universo não é tarefa fácil. Ainda mais num universo tão competitivo e em que se é minoria. Sim, pois quando se fala de gêneros nesse mercado, o placar é esmagador a favor dos homens. Entretanto, mesmo em menor número, as mulheres estão se sobressaindo.Andiara Petterle, CEO do Bolsa de Mulher S/A (http://www.bolsademulher.com/), acredita que, em muitas áreas envolvendo internet e TI, as mulheres se destacam pela visão holística e pela capacidade de pensar novos usos para diversas tecnologias, colocando muito foco no usuário final - o que é, muitas vezes, uma questão-chave para o sucesso de um projeto. "Essa capacidade de `dar vida` à tecnologia e trazê-la para o cotidiano é uma característica bastante feminina e percebemos isso diariamente aqui no Bolsa de Mulher. Muitos aplicativos e produtos baseados em TI acabam tomando novos rumos quando olhamos pela perspectiva do usuário final e de suas necessidades reais", afirma.
Seguindo a mesma linha, Ana Carolina Kronenberg, Analista de Sistemas, acredita que as mulheres são mais pró-ativas do que os homens, o que pode conferir a elas uma certa vantagem competitiva. Nesse sentido, a também Analista de Sistemas, Flávia Torezani, vai além: pelo fato de a mulher ter uma sensibilidade mais aguçada, consegue perceber as nuances de comportamento de seu interlocutor através da interpretação de olhares e expressões corporais, o que pode fazer com que o trabalho seja melhor executado.
As razões da diferença salarial e a maternidade
Em relação à questão salarial, a maioria absoluta concorda que os salários pagos às mulheres são menores do que os direcionados aos homens, embora haja exceções. As razões dirigem-se ao mesmo ponto: como as mulheres são relativamente novas nesse ambiente, sua capacidade ainda é questionada e seu trabalho, inicialmente, não é tão valorizado. Entretanto, ao mostrar produtividade, a equiparação acaba acontecendo. Algumas empresas buscam justificar a diferença salarial com a maternidade, que lhes traz muitos gastos. Entretanto, no Brasil, o salário-maternidade é pago pelo sistema de seguridade social. Às empresas cabem o auxílio-creche e assegurar o direito à amamentação. A propósito do assunto maternidade, a maioria parece concordar que a flexibilidade no trabalho depende da cultura da empresa. Algumas companhias permitem o trabalho remoto, já outras não dão esse tipo de abertura. A advogada e membro da Diretoria do site Wmulher (http://www.wmulher.com.br/), Flavia de Queiroz Hesse, acredita que a tecnologia veio para facilitar a vida da mulher, no sentido de capacitá-la a conciliar todos os papéis que ela exerce no seu cotidiano - trabalhadora, mãe e dona de casa.
A Consultora de Sistemas Danielle Carvalho Barbosa vivenciou isso há quatro anos, quando se tornou mãe. Ela afirma que quando sua presença é necessária em casa, tem a liberdade de trabalhar remotamente, em horários alternativos. "Nunca tive problemas em nenhuma das empresas onde trabalhei e nunca deixei que meus resultados fossem comprometidos".
Quanto ao conteúdo online voltado ao universo feminino, a quantidade de websites não para de aumentar. O mercado sabe que as mulheres também constituem um importante nicho consumidor e não quer perder oportunidades de capitalizar. Além disso, com a expansão da web 2.0, as próprias mulheres geram conteúdos que sejam interessantes para elas.Alguns sites são voltados aos interesses tipicamente da tribo xx, como O Bolsa de Mulher (htpp://www.bolsademulher.com/), que constitui uma companhia de soluções femininas e é a primeira rede social especializada nesse público no país, e o Wmulher (www.wmulher.com.br), cuja missão é promover a valorização da mulher, satisfazendo seus anseios e necessidades de informação, serviços e produtos.
Há, também, aqueles voltados à tecnologia. Um exemplo interessante é o LinuxChix Brasil (http://www.linuxchix.org.br/), o braço tupiniquim do Projeto LinuxChix Internacional. O objetivo é proporcionar um ambiente confortável e seguro às mulheres que queiram trocar informações sobre Linux e outros ramos da informática. O Projeto Software Livre Mulheres (http://mulheres.softwarelivre.org/index.php) não fica atrás. O propósito é destacar, apoiar e se engajar em projetos da comunidade Software Livre de inclusão social e digital. Além disso, algumas atividades, antes exercidas basicamente por homens, com o advento da internet ficaram mais acessíveis às mulheres. É o caso de investimentos em ações através de "home brokers". Isso demonstra claramente a diversidade de interesses das mulheres no universo virtual. A geração de conteúdo por usuários, a tão balada web 2.0, já é fato consolidado na internet, e uma recente pesquisa realizada pelo Pew Internet & American Life Project mostrou que as mulheres já produzem mais material que os homens: entre os jovens entre 12 e 17 anos, 35% das meninas são autoras de blogs contra 20% dos meninos. Em contrapartida, os rapazes saem na frente quando se trata da produção de vídeos: 19% para eles e 10% para elas. Outra pesquisa, realizada pela eMarketer, revelou que nos Estados Unidos a maioria dos internautas é constituída por mulheres, totalizando 51,7%. No Brasil, de acordo como Ibope, a presença das brasileiras na web chegou à marca de 48,9% este ano.
Essa superioridade feminina na produção de material para a internet talvez se justifique pelas características ditas tipicamente femininas - subjetividade, empatia, cooperação e sensibilidade - que, se outrora eram consideradas uma desvantagem, como dito anteriormente, hoje representam um dos seus mais poderosos diferenciais.